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Consumismo - Matéria feita para um jornal no qual estou colaborando-


Atire a primeira pedra quem nunca voltou para casa com algo que lhe fizesse pensar; Por que comprei isso?Este tipo de atitude é bem comum entre nós pobre mortais.
Porém, pesquisas indicam que o maior número de consumidor do planeta, são as mulheres, entre os 20 a 30 anos.
Dizem que estamos vivendo a reencarnação do milagre econômico. Como o acesso ao dinheiro está consideravelmente fácil e barato, o mercado do consumo está mais aquecido do que nunca.
Hoje todos nós consumimos o que queremos, tudo é acessível, e se o cartão de crédito passar, ótimo, mais um motivo de continuar consumindo cada vez mais.
Mas quem é o grande culpado nesta história, quem consome, ou quem induz ao consumo? Há quem diz que os verdadeiros culpados são os ‘marqueteiros’, pois eles vivem empurrando 'coisas' que as pessoas não necessitam. Por outro lado, o problema pode partir da própria pessoa, que não consegue distinguir a diferença da vontade com da necessidade.
Este é o caso de Mariana Maya, 47 anos, podóloga, casada, mãe de três filhos, e um único hobby: consumir, consumir e consumir.
Mariana, tem um bom emprego,e uma linda família, porém este habito de consumismo incontrolável vem tirando teu sono há uns cinco anos.
“Sou muito vaidosa, por isso sempre gostei de comprar roupas, sapatos, jóias, me sinto feliz e realizada quando compro algo” relata Mariana.
Ela diz que só foi dar conta que seu prazer estava se tornando uma grande obsessão, no momento em que estourou o limite de todos os seus cartões de créditos, e quase levou sua família à um inicio de crise financeira. “ Todo mundo me dizia que isso não era normal, mas nunca ouvi ninguém, nem mesmo aqueles que me amam de verdade, que é a minha família.Precisei ir ao fundo do posso para enxergar a realidade, e que realmente precisava de ajuda”.
Mariana não é a única a passar por situações de consumismo ao extremo, infelizmente ainda há muitas pessoas que passam pela mesma situação, mas que ainda não perceberam, ou não aceitaram o fato de precisar de ajuda de algum profissional.
Não podemos afirmar que o fato de uma pessoa gostar de fazer compras, quer dizer que ela seja compulsiva, ou que mais tarde tenha problemas com isso.
A equipe do Correio Comunidade, foi conversar com o Psicólogo Pe. Carlos J. L. Nascimento, que nos contou como é que a psicologia trata o tema consumismo. E ele começou levantando a seguinte questão.
Porque do consumismo? Por que uma pessoa pensa necessitar de supérfluos que, num segundo momento, são jogados fora? E ele mesmo responde:
“O individuo talvez não se garanta enquanto pessoa, precisa de elementos externos para se auto afirmar. Talvez seja conseqüência de uma auto-estima baixa. E a aquisição de tal produto que possibilite uma imagem mais aceitável, socialmente faz com que ela se sinta melhor consigo mesma”.
O grande problema não é o consumismo, mas sim o que leva a pessoa a ter tal comportamento. E ele ainda diz, que a Psicologia procura não rotular as pessoas em suas psicopatologias, mas sim ajudá-las nesses comportamentos que acabam por atrapalhá-las em suas vidas e relações sócias.
Quando perguntamos se há tratamento médico para isso, ele é enfático em sua resposta, “Tratamento medico tem pra tudo, aliás, talvez esse seja o maior problema para a psicologia. A impotência sexual por exemplo,é resolvida com remédio, quando na realidade pode ser resultado de eventos traumáticos ou de ansiedade...O verdadeiro tratamento psicólogo busca as causas de determinado comportamento e não visa apenas as conseqüências. Um exemplo claro, quando a pessoa esta ansiosa, ai o psiquiatra dá um remédio pra resolver, mas nem sempre se questiona o processo que desencadeou tal coisa”. Então perguntamos qual o melhor caminho a seguir, e ele responde que é procurar a ajuda de um profissional que mostre que somos muito mais do que aquilo que temos ou que procuramos ter.
“ Precisamos nos dar valor...O interior é mais importante do que tudo, pois as exterioridades não trarão essa satisfação, uma vez que a satisfação externa é efêmera”.Finaliza o psicólogo.
Entrevistamos duas jovens que já tiveram algumas extravagância em relação à compras, mas que felizmente não tornou- se nada muito grave.
Sheila 25 anos e Jéssica 19, duas autenticas consumistas, mas com moderações segundo elas.Quando perguntamos a Sheila sobre o que mais gosta de comprar, ela logo dispara, lingerie. “Me realizo quando compro, não posso ver um modelo diferente, que corro para comprar, e se não compro no dia passo a noite sonhando com ela” explica Sheila.
E o mesmo acontece com Jéssica, porém seu maior prazer é comprar cremes. “Não tem um especifico, as vezes nem ligo se é bom ou não, basta ser bem cheiroso”.
As duas jovens, garantem que tem o total controle sobre o desejo de comprar, e que este hábito, não passa de um divertido e delicioso passa tempo.
A escritora inglesa Sophie Kensella, usa metáforas bem básicas para explicar o ‘tal’ prazer de comprar em seu livro ‘Os delírios de consumo de Blecky Bloom’.O livro é um divertido romance no estilo Bridget Jones.
A escritora faz comparações com a vontade de comprar, com o fato de ficarmos alguns dias sem comer, e depois encher a boca de deliciosas torradas quentinhas com manteiga. E ela vai mais a adiante, “É como os melhores momentos do sexo, ou as vezes melhor”.
E é ai que se deve ter cautela. O prazer das compras se torna problemático quando substitui outros, ou seja, quando é um simples e inocente prazer de comprar, para uma terrível e incontrolável vontade de consumir, apenas por consumir.
Voltamos para a primeira questão levantada nesta matéria, quem é o grande culpado nesta história, quem consome, ou quem induz ao consumo?
Conversamos com Arthur Freitas de Mello, profissional de marketing que já atuou em grandes lojas de magazines.
Arthur diz, “O marketing explora o desejo atávico do ser humano. Desejo de auto-realização, desejo de se diferenciar, desejo de se identificar, desejo de pertencer a esta ou aquela "tribo".
Ele diz que consumir ou não, depende somente da pessoas.“O ser humano, cada um de nós, escolhe: comprar ou não. A decisão é individual e solitária”.Finaliza Arthur.
Quanto a resposta, de quem possa ser o verdadeiro culpado, não saberemos dizer.Podemos considerar que ambos tem uma parcela de culpa.
Agora, uma coisa podemos concluir, consumir sim, mas sempre com muita responsabilidade.